Personalidades apoiam movimento de combate à corrupção no governo federal
Publicada em 17/09/2011 às 19h22m
O Globo (opais@oglobo.com.br)
RIO
- A sociedade civil começa a se mobilizar para dar apoio e respaldo a
ações de combate à corrupção. Senadores de diversos partidos lançaram a Frente Suprapartidária Contra a Corrupção e a Impunidade e convocaram a população para participar. Uma empresária já organiza no Facebook um ato contra a corrupção no Rio , que começa a se espalhar pelo Brasil e foi notícia até no jornal espanhol "El País" . O GLOBO publica diariamente o depoimento de uma personalidade sobre a importância do movimento e da mobilização da sociedade.
Glória Maria, jornalista
"Em
outros lugares do mundo está acontecendo um sufoco por causa da miséria
e as pessoas se manifestam contra isso. No Brasil, nós temos que nos
mobilizar contra a corrupção. Isso porque tudo o que mexe com a alma do
brasileiro acontece. Temos aí vários exemplos, como as Diretas Já, o
impeachment, etc., e a população foi às ruas. Nós tínhamos que fazer a
maior manifestação que o país nunca viu, em todas as partes e cantos do
país. Se a gente não disser realmente que basta, a corrupção não vai ter
fim."
Cacá Diegues, cineasta
"A
corrupção é uma coisa que já acontece no Brasil há muitos séculos.
Desde o descobrimento, na verdade, quando Pero Vaz de Caminha, na carta
que enviou à Corte, pedia emprego para o genro, num exemplo claro de
tráfico de influência. Depois, se formos ler as pregações do Padre
Antônio Vieira, vamos ver denúncias de histórias fantásticas de
corrupção. Na verdade, este problema é resultado do paternalismo do
Estado. A ideia de que o Estado pertence a quem está no poder e acha que
pode fazer o que bem entender com o dinheiro é fruto deste
paternalismo."
"Hoje,
pela primeira vez eu vejo a corrupção, que sempre foi tratada como tema
de oposição, se transformar numa causa nacional, independente de
partidos. A corrupção agora se tornou uma causa nacional assim como foi a
escravidão no final do século XIX. Deixou de ser uma queda de braço
entre partidos e o governo está no centro desta discussão. Eu vejo todo
este movimento anticorrupção como uma boa notícia. Não digo que vá
resolver o problema da sociedade brasileira, mas o certo é que a
sociedade não aguenta mais este problema. E esta mobilização é um
indício de que vem coisa boa por aí."
Eduardo Dussek, cantor
"A
corrupção é a maior prova da ignorância, ela é contagiosa. É absurdo
achar que roubando você está construindo uma vida maravilhosa. Enquanto
isso, você mata gente no Nordeste, mata gente nas estradas... A
corrupção é destruição, é guerra. Por isso é que eu acho que deveria
haver uma regulamentação na profissão de político. Para você ser médico
ou engenheiro, tem que ter diploma, não é? Então, por que os políticos
não são exigidos em termos de saber, de técnica? Tem que acabar com essa
mania de botar qualquer pessoa no poder só porque ela tem carisma. A
maior parte dos políticos, eu não contrataria para nada."
Paulo Miklos, músico
"Eu
fiquei bastante esperançoso com a grande manifestação do Sete de
Setembro, em que quase 25 mil pessoas saíram às ruas. Só a sociedade
mobilizada, só um movimento muito grande pode mudar algumas práticas,
como o nosso jeitinho. As pessoas podem mudar o curso das coisas. E,
agora, as datas comemorativas do país estão servindo para isso, para que
o nosso país realmente mude. Vem aí também o 15 de novembro, e podem
surgir outros protestos.
Mas
ainda temos um longo caminho, temos que fazer muitas coisas, como uma
reforma política eficiente. Estamos esbarrando sempre nas mesmas
pessoas. Parece que a alternância de poder já não adianta, que não há
tanta mudança. Sempre há a exigência de negociação com as mesmas
pessoas, quer dizer, parece que a política fica refém das mesmas
pessoas. Mas vejo com muita esperança essas manifestações, que podem
começar a mudar as coisas".
Dicró, cantor e compositor
"A
corrupção, do meu ponto de vista, começa lá em Brasília. Exemplo:
agora, o governo está querendo voltar com o CPMF para dar mais dinheiro
para a Saúde. Antes, já disseram que roubavam tudo. Vão continuar a
roubar agora. Mas isso é bom para os velhinhos, que vão recuperar a
audição, a visão e vão ficar atentos para que não exista nenhum problema
ou desvio de dinheiro".
Marcelo Madureira, humorista
"Dou
a maior força para este movimento porque a corrupção é, antes de tudo,
antieconômica. Por exemplo: uma ponte que é para custar 100, custa 150, e
por aí vai. O certo é que a corrupção no Brasil já foi longe demais. A
corrupção é uma via de mão dupla. Não existe corrupção sem corruptor. O
corrupto tem que ser mancomunado com o corruptor. O empresário, os
grandes empreiteiros, desses ninguém fala. A corrupção está em
contradição com a democracia, com a economia, com o bom senso e os bons
costumes. Não existe ninguém que seja a favor destes corruptos.
Infelizmente,
a Justiça só serve aos poderosos. Só o pobre vai preso, e as pessoas
praticam estes atos de corrupção porque têm certeza da impunidade. Só
existe democracia de verdade quando existe justiça de verdade. E quando
você botar na cadeia tanto o corrupto quanto o corruptor, você vai
lavrar um tempo importante. Em qualquer lugar do mundo tem corrupção. A
diferença no Brasil é que a corrupção corre solta e não acontece nada. É
uma responsabilidade nossa, do cidadão, de lutarmos contra este tipo de
delito, porque este delito prejudica a sociedade como um todo. Quanto
em dinheiro o país perde com a corrupção? É importante que as pessoas de
bem deste país estejam juntas nesta luta, que é uma luta dura. Mas se a
gente não lutar, não tem chance nenhuma de ganhar. Eu sugiro começarmos
a luta invadindo a ilha de Curupu, do Sarney, para conquistarmos um
pedaço do território inimigo. Vai ser uma boa briga!".
Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente da Firjan
"Nós
apoiamos porque a corrupção está incrustada no poder público
brasileiro. E nós pagamos uma quantidade gigantesca de impostos. Ninguém
aguenta mais não ter serviços proporcionais aos impostos recolhidos.
Nós sabemos que grande parte dessa dificuldade que o Estado tem de
prover os serviços públicos são em função da corrupção, do dreno de
recursos que acontece na administração pública. Nós temos que dar um
basta nisso. Nós temos que conclamar todos os brasileiros a se
manifestarem a favor da moralidade pública.
Nós
temos que chamar a sociedade, as instituições, os jovens para mostrar
que isso que acontece não é mais possível, isso não é razoável, isso é
um câncer que está matando a todos e está matando principalmente a
esperança da juventude".
Marco Antonio Villa, historiador
"Eu
fiquei impressionado com as manifestações organizadas no Sete de
Setembro. Especialmente em Brasília, onde muitas pessoas foram às ruas.
Eu sempre fico irritado quando ouço de alguns, e é pensamento corrente,
que a corrupção está no DNA do brasileiro. Outro discurso de que não
gosto é o seguinte: se a economia vai bem, então está tudo certo,
ninguém se mobiliza. Esses discursos que não tem nada a ver e essas
manifestações mostram que as pessoas estão indignadas. A grande
dificuldade é encontrar um meio para que sociedade possa demostrar toda
essa insatisfação. Nós somos uma sociedade invertebrada, difícil de
canalizar algumas insatisfações.
O
desafio, agora, é a continuidade. Como manter essas manifestações e
pressionar? Aquela tese de que não estão nem aí, é tudo bobagem,
lero-lero. Tenta-se até justificar a despreocupação com a carta de (Pero
Vaz) Caminha, e associam também a corrupção a uma herança ibérica, mas
não é assim. Pode ser que esse movimento inaugure uma nova forma de
fazer política. Há um cansaço em relação às formas tradicionais. Os
sindicatos e movimentos sociais, por exemplo, são todos beneficiados e
atrelados ao governo".
Carlinhos de Jesus, coreógrafo
"A
população tem que se organizar, sim. Tem que se juntar para dar um
basta na corrupção. Na época do impeachment, a sociedade não se
organizou, pintou os rostos e foi às ruas? É importante estar atento e
lutar contra esse mal. Às vezes, acho que a sociedade não tem noção da
força que tem. Com os impostos absurdos que pagamos, não é possível que
aconteça o que acontece. Temos que entender que o dinheiro do
contribuinte não pode ser usado da maneira que é. Pagamos e não há o
mínimo respeito com a população. A população tem que se organizar e dar
um basta. Isso é válido. O Brasil é conhecido em todo o mundo pelo
esporte, pela música e pela corrupção. É desagradável. Não adianta nada o
Neymar fazer gol, dançarmos e acontecer tudo que acontece com o nosso
dinheiro".
Maurício Azêdo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)
"O
movimento tem a maior importância porque sem a mobilização popular nós
não vamos ter uma modificação essencial nesse quadro a que assistimos,
de ataque ao dinheiro público e de práticas fraudulentas na
administração pública. A presença da ABI ao lado da OAB e da CNBB tem em
vista procurar alastrar esse movimento para sensibilizar a opinião
pública, que pode ter uma participação decisiva nessa questão.
É
através dessa mobilização que vamos modificar essa leniência e essa
contemplação com a corrupção que grassa na administração pública em
todos os níveis e em todos os escalões da federação".
Mário Moscatelli, biólogo
"É
um compromisso apoiar os movimentos contra a corrupção. Ano que vem tem
eleição e é uma oportunidade que o eleitor tem de fazer uma faxina em
nível municipal. Do jeito que está, não dá mais. Se o mau gerenciamento
do dinheiro público, a corrupção e a impunidade não forem resolvidos,
esse país vai afundar. Os políticos têm que sentir medo da população. O
mesmo medo que a gente sente quando vai ser atendido em um hospital
público e quando vai andar de ônibus à noite. Com a união do povo, esses
caras vão perceber que as coisas podem mudar. A sociedade vai começar a
pressionar, e o instinto de sobrevivência deles vai falar mais alto.
Assim, vão ter que parar de roubar".
EU-REPÓRTER : Grave um vídeo e expresse a sua opinião
Alexandre Coutinho Pagliarini, Professor de Relações Internacionais e especialista do Instituto Millenium
"Eu
apoio totalmente os movimentos sociais, na rede, nas ruas, e rejeito
qualquer forma de censura à mídia. Eu atribuo a corrupção a quatro
fatores: ausência de disciplinas sobre democracia, Direitos Humanos e
fundamentos do Direito no ensino básico e fundamental; falta de
investimento do governo em todos os níveis de ensino, o que originou uma
opinião pública inconsciente de seus direitos e deveres, e falta de
democracia durante longos períodos. Se você olhar para os 500 anos de
história do Brasil, há períodos ínfimos democráticos. Mas, não acredito
que Dilma esteja fazendo uma faxina. Tudo o que está ocorrendo é por
força da mídia".
Gustavo Borges, ex-nadador e medalhista olímpico
"Não
há como vermos a corrupção no nosso país e não sentirmos indignação.
Seria uma falta de ética da nossa parte não se indignar. Vivemos em um
país com um potencial gigantesco e temos os nossos valores, como
respeito e confiança, abalados. Temos que viver aquilo que acreditamos. É
o 'faça fora de casa o que você faz dentro'. Acredito, sim, que todas
essas mobilizações podem trazer mudanças, desde que a população se
envolva. Se isso acontecer, a gente consegue mudar as coisas".
Carlos Lessa, economista
"Toda
e qualquer mobilização da sociedade é bem vinda, terá êxito se traduzir
uma percepção latente no corpo social. No Brasil, a corrupção é
histórica e faz parte da realidade corrente, reflete uma democratização
insuficiente e uma cidadania com pouca musculatura.
Mudam
os tempos e os termos, mas a corrupção foi 'naturalizada'. A sonegação
de impostos, a propina para apagar a multa de trânsito, a obtenção de um
falso atestado médico para justificar falta ao trabalho ou à sala de
aula, etc. são manifestações consideradas"naturais" e justificáveis pelo
brasileiro comum. É positivo denunciar a macrocorrupção, desde que haja
combate ao corrompido e ao corruptor. Há uma complacência com a
microcorrupção, que deveria ser combatida ao nível de escola primária.
É
preciso separar o joio do trigo. A Fiesp acha que o problema brasileiro
é "excesso" de carga tributária e poderio burocrático. Isso tem grãos
de verdade, mas não anulam a cultura antidemocrática e pouco praticante
de cidadania. As decisões das agências reguladoras não são
transparentes, nem explicitadas. Em muitos aspectos os temas regulados
pelas agências são hoje áreas de desrespeito sistêmico aos "direitos" do
cidadão. Talvez a Fiesp pense o Estado soberano como uma agência
neoliberal de governança".
MAIS DEPOIMENTOS: Brasileiros avaliam que Dilma precisa do apoio para desmontar esquemas
Nalbert Bitencourt, ex-jogador de vôlei e comentarista
"Esses
movimentos de combate à corrupção estão crescendo, são muito
importantes e têm o meu apoio. Antes, as pessoas só reclamavam e não
tomavam atitude. Essa vigilância da sociedade ajuda a pressionar os
corruptos. A Dilma entrou forte nessa guerra. Mas a gente sabe que não é
fácil. Nós temos que lutar para que a impunidade, que é o grande
problema, deixe de existir. Os políticos corruptos se sentem muito à
vontade pelo fato de não acontecer nada, não serem punidos. Essa
absolvição da Jaqueline Roriz, por exemplo, foi um absurdo, algo
inacreditável".
Mauricio de Sousa, desenhista
"O
movimento popular sempre vai dar em algum resultado, mesmo que seja
pequeno, vai dar. Aos poucos, essas mobilizações vão se transformando em
uma bola de neve. Eu não gosto muito do termo 'faxina' porque envolve
motivações políticas. A gente não sabe muito bem o que está por trás
disso. Eu prefiro o termo 'movimentos popular', que acontece a partir da
conscientização que está se espalhando no nosso país, graças ao
trabalho da imprensa, que, espero, não tenha nenhum tipo de bloqueio. O
que importa, na verdade, é a nossa faxina, conduzida pelo povo, pelos
agentes sociais. Nessa, sim, eu acredito".
Luiz Alfredo Garcia-Roza, escritor
"Eu
sou favorável a qualquer campanha contra a corrupção. Acredito que elas
podem, sim, trazer efeitos para o nosso país. Espero, sinceramente, que
essas mobilizações, esses atos que estão sendo organizados pela
sociedade, tanto na internet quanto nas ruas, tragam mudanças concretas.
É uma oportunidade até para elas pegarem carona em mobilizações que
estão acontecendo atualmente em outros países".
Sérgio Besserman, economista
"Corrupção
não é só crime e desperdício de recursos públicos. Ela degrada os
negócios, as instituições e é um obstáculo à democracia brasileira. Eu
acredito em dois caminhos transformadores para reduzir a corrupção:
transparência - que significa cada um dos três poderes disponibilizarem
todas as informações para os cidadãos -, liberdade de imprensa; e
participação popular fazendo força política em busca da ética.
Os
primeiros meses do governo Dilma demostraram que existe uma força
majoritária na sociedade brasileira que quer a mudança do padrão de
direção política no país. Eu apoio a aglutinação de todas as forças
políticas que querem transformar o modo pelo qual o poder público é
exercido no país".
Nelson Motta, produtor musical, jornalista, compositor e escritor
"Essa
faxina da Dilma foi pontual e quem levantou isso foi a imprensa. Mas, a
sociedade está começando a reagir. Temos no momento um ambiente
favorável a essa reação. A opinião pública é quem de fato está
derrubando ministros, pressionando, conquistando aquilo que antes
parecia inatingível, como a Lei da Ficha Limpa. Um dos temas favoritos
da minha coluna é a corrupção, que corrói a sociedade e os agentes
públicos. A corrupção tem muitas faces, uma delas é essa dos políticos
roubarem para os seus partidos. Desviar dinheiro público para o partido é
roubar duas vezes. É pior do que roubar para si, porque corrompe o
processo eleitoral".
Fábio Konder Comparato, jurista e professor emérito da Faculdade de Direito da USP
"A
corrupção dos agentes públicos é um mal endêmico no Brasil e existe
desde o início da colonização, abrangendo indistintamente todos os
órgãos do Estado. Charles Darwin, quando passou pelo nosso país,
observou: "Não importa o tamanho das acusações que possam existir contra
um homem de posses, é seguro que em pouco tempo ele estará livre. Todos
aqui podem ser subornados."
Trata-se,
na verdade, de uma prática entranhada na mentalidade coletiva e que
permeia os costumes ou modos de comportamento de todas as classes
sociais. Sou, no entanto, bastante idoso para perceber que a situação
começa a mudar. Hoje, ao contrário do que parece, a corrupção não
aumentou em relação ao passado. O que aumentou é o número de pessoas que
manifestam indiferença ou complacência para com ela.
Entendo
que a atual presidente da República tem seguido, com coragem e
determinação, no rumo certo: a intransigência com qualquer prática de
corrupção no Poder Executivo, mesmo quando contamina ministros de
Estado.
Não
basta, porém, apoiar a presidente, como os meios de comunicação de
massa, acertadamente, vem fazendo. Como a mentalidade coletiva não muda
rapidamente, é indispensável montar uma política pública de longo prazo
para combater a corrupção, comportando instituições adequadas e uma
ampla campanha de educação cívica.
Dentre
as instituições adequadas para lutar contra a corrupção, entendo que
devemos criar instrumentos novos de atuação popular, como ouvidorias do
povo, em todas as unidades da federação, e a instituição de ações
populares, ou seja, ações judiciais propostas por qualquer cidadão em
nome do povo".
Zeca Borges, superintendente do Disque-Denúncia
"Hoje
a sociedade tem instrumentos não só para se mobilizar, como para
interagir. Não basta conscientizar a população, é preciso viabilizar
instrumentos para ações, e o cidadão precisa usá-los, deixando de ser
mero espectador. O efetivo combate à corrupção, tanto na área privada
como no setor público, se dá pelo processo dos envolvidos. Não bastam
exonerações. O importante é registrar e abrir inquéritos. Não se trata
de vingança, é uma questão de pragmatismo.
As
mídias sociais são válidas nessa luta. O disque-denúncia tem mais de 55
mil seguidores no Twitter, através do qual informamos aos cidadãos
sobre locais de risco de assaltos, mapas de cracolândia... e os
seguidores, por sua vez, interagem, enviando fotos, vídeos, informações,
denunciando. Eu apoio a atuação da Dilma, ela está no caminho certo de
não tolerar essas ações corruptas. A presidente está atraindo uma
confiança muito grande, que acaba dando mais desenvoltura para outros
agentes sociais nessa luta".
Tia Surica, integrante da Velha Guarda da Portela
"Eu
apoio essa faxina que a Dilma está fazendo, que está mais do que certa.
O país não aguenta mais tanta corrupção. A tendência dessa mobilização
da sociedade é dar certo porque estamos todos cansados de tanta
corrupção. Se todos entrarem de cabeça nessas manifestações que estão
sendo organizadas, os efeitos vão surgir".
Renato Sorriso, gari passista
"Toda
corrupção que acontece no Brasil e no mundo é por falta de educação
familiar. Os corruptos são pessoas ambiciosas, que só pensam nelas
mesmas, não pensam em dividir, só querem tirar proveito. Quem tem isso
dentro de si não consegue enxergar um horizonte de honestidade. Vejo o
movimento das pessoas que agora se unem para combater a corrupção como
uma ação muito positiva. A população tem, sim, que ir para as ruas
contra as pessoas desonestas e contra a política suja. Tem que lutar
para garantir seus direitos sociais: educação, saúde, emprego. A Dilma
está certíssima em fazer essa faxina, só que ela já era pra ter sido
feita há muito tempo, antes de isso tudo acontecer. A limpeza tem que
ser feita. É como dentro de casa. Se não limpar, a sujeira acumula".
Marcelo Adnet, apresentador e humorista
"A
corrupção é o que o Brasil tem de pior. É um crime, mais do que um
roubo, é um desfalque. Você, cidadão, parte do princípio que está sendo
roubado. Você paga imposto, trabalha e vê que está sendo enganado. A
corrupção é uma falha entre o Estado e o cidadão. A gente aprende desde
cedo que o 'jeitinho' é a saída pra tudo. Desde pequenos, nos ensinam
que o Estado é o nosso inimigo, que nos rouba. E acham que a forma de
lutar contra isso é apenas burlando. Eu sou 100% favorável a essa faxina
no governo. E isso de termos uma mulher no comando é muito legal porque
a mulher é menos tolerante com esse conceito do 'jeitinho'. A Dilma é
uma mulher forte, séria, independente, a gente está vendo que ela não é a
sombra do Lula. Ela priorizou a faxina em vez da manutenção da base.
Mas, claro, ela não governa sozinha.
O
Brasil está avançando, as coisas estão melhorando, mas não podemos
esquecer que quem é muito pobre, continua muito pobre. O país não é só a
classe média. Não acho que a juventude esteja mais mobilizada. Ela está
mais virtualizada. Por estarmos muito nesse mundo virtual, vemos nele
um meio de levantar movimentos. Isso é muito positivo, mas a internet
foi quem mudou muita coisa, falta a gente mudar. Então, essa mobilização
é muito boa, mas ainda é muito pouco. O brasileiro ainda é muito
passivo, debate pouco, não tem o hábito de criticar, questionar".
Rodrigo Baggio, presidente e fundador do Comitê para Democratização da Informática
"Dou
força e apoio total à presidente Dilma, para que ela amplie essa
faxina. Cada brasileiro tem que se manifestar. A gente tem que dar o
basta através desses atos que estão sendo organizados e utilizar as
mídias sociais para mobilizar o Brasil. O sonho do brasileiro é acabar
com a corrupção. Mas a ética tem que partir de cada um. Tem uma frase do
Gandhi que diz 'seja você a transformação que você quer ver no mundo'. A
educação pelo exemplo é o que vai mudar o país. É o avô dando exemplo
para o neto, o pai dando exemplo para o filho. E todos precisam usar as
mídias, ir aos eventos, criar e reproduzir no Brasil, de forma
organizada e sem violência, o fenômeno de mobilização em rede que
aconteceu em outros países, como Chile, Espanha... Eu estarei no ato na
Cinelândia, em setembro, e em outros que forem criados".
Cláudio Assis, cineasta
"A
corrupção no Brasil é uma questão cultural, que vem desde os tempos do
Império, não dos nossos índios, mas de quem nos colonizou. Infelizmente,
ela é uma coisa que não acaba nunca. Sempre vai ter isso. É claro que é
sempre muito bom que surja um movimento contra isso. Eu apoio qualquer
movimento contra a corrupção e é bom que ele cresça, que as pessoas se
mobilizem, porque a sociedade tem sido muito passiva em relação a essas
práticas que parecem que estão na genética do brasileiro. Infelizmente. O
pior é que se fala em faxina ética, se faz limpeza, mas uns corruptos
se vão e outros chegam."
Marly da Silva Motta, historiadora e pesquisadora do CPDoc da FGV
"Movimento
de combate à corrupção não é inédito no Brasil. No segundo governo
Vargas existiu uma frente contra o roubo e a corrupção. Mas o debate
político, nessa época, tinha um componente ideológico forte, diferente
de hoje. Essa questão cresce porque tem apelo popular. E a sociedade tem
que apoiar a "faxina", mas o Brasil não tem tradição de ir às ruas
pedir punição para corruptores. Claro que pode ser a primeira vez.
Agora,
o que tem diferente hoje é que antes esses movimentos ocorriam durante
graves crises políticas (por ex, no governo Vargas, com JK e até na
época do Collor) e agora não são para derrubar a Dilma. Então, os
movimentos podem estabelecer novos padrões. A corrupção não está sendo
vista como arma para derrubar presidente. Agora, instituições como AGU e
CGU podem se mobilizar e aí a corrupção será tratada no lugar certo.
Esse combate deve passar pelas instituições que o Estado possui. Mas
espero que tudo não seja só panaceia, e sim um processo duradouro.
Sobre
a Dilma, ninguém duvida que ela possa tomar a iniciativa (pra continuar
com o movimento), o eleitorado já esperava uma atitude mais durona. Ela
faz acreditar que o processo pode avançar."
Roberto DaMatta, antropólogo
"Um
dos problemas de se acreditar no brasileiro é que aqui se governa com
os amigos. Como você separa projetos que interessam à população de
outros projetos que são muito mais de interesse de grupos, lobistas,
pessoas incrustadas nos ministérios? Esse é o grande problema. O que o
Senado está fazendo é muito bom. Representa um pouco da indignação
diante do fato de que o Brasil melhora, mas não consegue mudar em
relação às falcatruas. Entra governo de direita, sai governo de direta,
entra governo de centro, sai governo de centro, entra Lula, sai Lula,
entra Dilma e continua tudo a mesma coisa. E a coisa vai ficando cada
vez pior. E os tribunais? As pessoas falaram que houve abuso no uso de
algemas nos presos (na Operação Voucher, da Polícia Federal). Sim, e aí?
Essas pessoas são criminosas ou não? Vão ser julgadas ou não?"
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