Uma arma de papel na Guerra ao Terror: EUA oferecem “dinheiro vivo” em troca de informações sobre terroristas. Maior recompensa: R$ 40 milhões (a oferta é válida para o Brasil…)
A
Globonews exibe nesta quarta-feira, às 20:05 (reprise: meia-noite e
meia), entrevista inédita em que o ex-agente do Serviço de Segurança
Diplomática do Departamento de Estado americano, Fred Burton, fala sobre
recompensas milionárias pagas pelo governo dos EUA em troca de
informações sobre terroristas
O governo americano usa uma poderosa arma de papel na chamada Guerra ao Terror : dinheiro para informantes.
O Departamento
de Estado dos EUA mantém, desde os anos oitenta, um programa chamado
“Rewards For Justice”. Cem milhões de dólares já foram pagos a cerca de
sessenta informantes que passaram ao governo americano informações que
levaram à captura de terroristas. As recompensas não são pagas apenas a
quem ajudar a esclarecer ataques terroristas já ocorridos : o prêmio
vale, também, para quem der informações que evitem novos atentados.
Não há qualquer restrição geográfica: as recompensas podem ser pagas a informantes de qualquer parte do mundo.
Gravamos
em Austin, Texas, uma longa entrevista com o agente que, durante anos,
atuou na frente contra o terror. Chama-se Fred Burton. É autor de livros
como “Ghost: Confessions of a Counterterrorism Agent” .
Burton
cita um detalhe : as recompensas são pagas, em geral, em “dinheiro
vivo”, “em notas de cem dólares” – numa “mala preta”. Se o informante é
valioso, pode receber ajuda para ganhar um novo endereço e mudar de
identidade. É o que aconteceu com o cúmplice de Ramzi Yousef, o
responsável pelo primeiro ataque ao World Trade Center, em 1993. Quando
soube que o programa oferecia recompensas pulpudas, o cúmplice entregou o
chefe. Recebeu 1 milhão e 100 mil dólares em dinheiro vivo. Trocou de
identidade. Final da novela: o informante “sumiu na poeira da estrada”.
Yousef foi preso no Paquistão, transferido para os Estados Unidos e
condenado à prisão perpétua.
A
maior recompensa oferecida, hoje, é de 25 milhões de dólares ( cerca de
40 milhões de reais ) a quem der informações que resultem na captura do
sucessor de Bin Laden na Al-Qaeda, o médico egípcio Ayman
al-Zawahiri. Há uma lista de cerca de trinta terroristas que valem, na
avaliação do Reards for Justice, cinco milhões de dólares cada ( cerca
de 8 milhões de reais ).
O Departamento de Estado publica a lista em vinte e oito idiomas – inclusive o português :
Trechos da entrevista que a Globonews levará ao ar nesta quarta-feira:
“A
fonte que nos permitiu capturar Ramzi Yousef, o mentor do primeiro
ataque ao World Trade Center, recebeu Us$ 1,2 milhão em dinheiro vivo,
em uma maleta preta da Samsonite…O dinheiro veio de uma ferramenta
poderosa do governo americano: um programa chamado “Rewards for
Justice”. O programa foi, literalmente, projetado em um guardanapo no
início da década de oitenta. Os informantes recebem pagamento. Não
importa em que lugar do mundo estejam. Por exemplo: cidadãos do Brasil,
Europa ou sudeste da Ásia podem entrar em contato com o governo
americano através de um número gratuito, pelo nosso website, ou por
embaixadas e consulados dos EUA em qualquer país , com informações. O
governo americano vai tentar confirmá-las. Se forem substanciais, este
indivíduo pode receber milhões de dólares. O informante a quem pagamos
1,2 milhão foi transferido para os Estados Unidos, depois que o tiramos
do Paquistão. Literalmente, desconheço o paradeiro desse informante
hoje. Nós demos o dinheiro a ele. E ele seguiu adiante. Pelo que sei,
nunca voltou a entrar em contato conosco. Nunca nos procurou. Era muito
dinheiro. Espero que ele tenha investido bem”
“Sempre
que oferecemos a alguém a oportunidade de ganhar dinheiro, temos que
investigar para excluir pistas forjadas ou alegações malucas – que
chegam aos montes. Há os que nos escrevem, nos telefonam ou nos visitam
alegando coisas absurdas. Dizem que Muammar Kadhafi vai tomar o plenário
da ONU. Ou que o presidente Obama na verdade não trabalha para os
Estados Unidos, mas para a Nova Ordem Mundial. Quando divulgamos este
tipo de programa para o público, temos que excluir informações errôneas
ou ridículas. Usávamos procedimentos como dizer: “Tudo bem. Agora que
nos trouxe informação sobre esta ameaça, você aceita passar pelo
detector de mentiras ?”. A maioria saía correndo”.
O
agente também trata de um caso que envolve o Brasil: o assassinato do
coronel Josef Alon, adido militar da Embaixada de Israel nos Estados
Unidos, em julho de 1973, em Washington, poucos meses depois do massacre
dos atletas israelenses nas Olimpíadas Munique, em setembro de 1972. O
ataque à delegação isralense foi feito pela organização Setembro Negro. A
investigação comandada por Burton descobriu que o terrorista que se
infiltrou nos EUA para eliminar o adido militar israelenses tinha
ligações com a organização terrorista que cometera o ataque em Munique.
Depois de obter um passaporte falso, o homem que matou o adido militar
israelense teria embarcado para o Brasil – onde, segundo garante Burton,
se refugiou em Porto Alegre:
“O
terrorista do Setembro Negro que apertou o gatilho e matou o coronel
Alon fugiu dos EUA após o assassinato. Recebeu do Setembro Negro uma
identidade falsa – que facilitou a viagem ao Brasil. Viajou para Porto
Alegre, especificamente, onde se refugiou no interior de uma comunidade
palestina durante anos. Tentei localizá-lo no Brasil,o que foi muito
difícil. É parecido com a situação na Tríplice Fronteira : não
conseguíamos a ajuda de ninguém, o auxílio de ninguém. Eu suspeitava
fortemente de alguém o teria advertido sobre nós. O homem fugiu do
Brasil e foi para o Líbano, onde estava protegido pelo Hezbollah – que
lhe deu abrigo. O que me impressioniou foi a capacidade do Setembro
Negro de conseguir um passaporte para ele e levá-lo imediatamente para o
Brasil depois do assassinato. Sou impedido por lei de divulgar o nome
do verdadeiro assassino. Depois que ele fugiu para o Brasil, voltou para
o Líbano. Fontes que tenho na comunidade de inteligência israelense me
enviaram uma mensagem por celular. Meus contatos em Israel disseram que
eles tinham “resolvido o assunto”. Tinham “cuidado do problema”. Entendi
que os israelenses fizeram esse indivíduo desaparecer. Quando ao que
aconteceu com ele, só posso especular. Não sei ao certo. Imagino que
tenham feito com o atirador o que fizeram com outros agentes palestinos
após o massacre de Munique: devem tê-lo assassinado”.
Depois
da morte dos atletas israelenses em Munique, o governo de Israel
promoveu uma operação clandestina : caçou e eliminou, um por um, em
vários países, os terroristas palestinos responsáveis pelo ataque. A
operação, batizada de Ira de Deus, virou tema do filme “Munique”,
dirigido por Steven Spielberg.
A
saga do agente Burton para tentar esclarecer a morte do adido militar
da embaixada israelense é o assunto principal do livro que Burton acaba
de lançar: “Chasing Shadows” (“Caçando Sombras”).
A
entrevista de Burton ao DOSSIÊ GLOBONEWS : SEGREDOS DE ESTADO joga um
pouco de luz sobre operações que, como ele admite, ocorrem quase sempre
no mundo das sombras.
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